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7 de maio de 2020 News

O GLAUCOMA, NÃO TEM CURA. MAS TEM TRATAMENTO E PREVENÇÃO.

Cerca de 900 mil pessoas no Brasil são portadoras de glaucoma, segunda causa de cegueira no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo as projeções, o glaucoma afetará 80 milhões de pessoas em 2020 e 111,5 milhões em 2040. Trata-se de uma doença grave, cuja perda – irreversível – do campo visual somente é percebida em estado avançado, quando pode já ter comprometido entre 40% e 50% da visão.

Por ser um vilão silencioso, o diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais para conter o desenvolvimento dessa patologia.

Exames de aferição da pressão intraocular, avaliação do nervo óptico e aferição da pressão arterial são essenciais como atitudes preventivas

“Sem uma rotina de consulta oftalmológica, a doença se instala e progride lentamente, podendo demorar meses ou anos para que o paciente perceba”, explica o Dr. Luiz Carlos Pegado, fundador da Clinop e do IBAP.

Abaixo, nossa equipe de médicos e residentes respondem as dúvidas mais comuns em relação ao glaucoma, explicando suas causas, manifestações, tratamentos e novidades no combate à doença. Confira:

O que é glaucoma? De que forma ele se manifesta?

É uma doença degenerativa do nervo óptico, que pode causar perda progressiva da visão. Trata-se de uma doença silenciosa, ou seja, assintomática, que só é diagnosticado em uma consulta oftalmológica de rotina.

Qual a gravidade dessa doença?

A doença, quando diagnosticada em estágios iniciais, pode ser controlada. O diagnóstico precoce previne sequelas irreversíveis, já que é possível, na consulta de rotina, saber que o paciente tem glaucoma antes dele desenvolver a perda da visão. Casos em estágios mais  avançados apresentam perdas de campo visual definitivas e até a cegueira completa, por atrofia do nervo óptico.

Quais causas e fatores influenciam a doença?

Entre os principais fatores de risco para a doença estão: indivíduos com mais de 40 anos, histórico familiar de glaucoma, algumas condições oftalmológicas (como altos míopes, pessoas que sofreram trauma ocular, processos inflamatórios e descolamento de retina), uso de medicações (corticoides e antidepressivos) e condições sistêmicas (diabéticos).

Existem tipos diferentes de glaucoma?

Sim. O tipo mais comum é o glaucoma de ângulo aberto, que ocorre quando a capacidade de produção de humor aquoso (líquido presente no interior do olho) que é superior à capacidade de drenagem. Esse fenômeno aumenta o volume de líquido presente no olho e, consequentemente, eleva a pressão intraocular. Esse tipo é o glaucoma silencioso, em que o paciente demora a perceber a perda visual.

Um segundo tipo é conhecido como glaucoma de ângulo fechado, que pode ser crônico ou agudo. Ocorre quando o paciente apresenta um estreitamento ou um fechamento do espaço de drenagem de humor aquoso. Nos casos agudos, o aumento da pressão ocular ocorre rapidamente e vem  acompanhado de sintomas como dor intensa nos olhos, embaçamento visual, visualização de círculos coloridos em volta das luzes, vermelhidão ocular, dor de cabeça e náuseas.

E o glaucoma congênito? De alguma forma, os sintomas, causas e tratamentos se diferem do glaucoma em adultos?

Glaucoma congênito é uma condição rara, grave e que afeta recém-nascidos. Por ser uma condição genética, em alguns casos, a criança é portadora e a doença se manifesta mais tarde, em adolescentes e adultos jovens. Nos recém-nascidos, o Teste do Olhinho é muito importante para o seu diagnóstico precoce. Nesses casos, o tratamento é sempre cirúrgico e deve ser indicado o mais rápido possível. Já em crianças, adolescentes e adultos jovens, o diagnóstico é feito em consultas de rotina e também podem apresentar quadros silenciosos como nos adultos.

Os sintomas são percebidos pelo paciente?

Não. A doença é silenciosa. Inicia-se com a perda de campo visual da periferia para o centro, sem comprometer a visão central. Nos estágios mais avançados, há a percepção da perda de campo periférica e existe a dificuldade de se localizar e locomover espacialmente. Com a progressão da patologia, ocorre a baixa visual gradativa até a completa perda da visão, se a doença não for tratada.

De que forma a pressão ocular se relaciona com essa doença? Algumas pessoas confundem: afinal, há alguma relação com a hipertensão arterial e a pressão ocular?

Na grande maioria das vezes, a pressão intraocular encontra-se alta, e controlá-la contribui com o controle da doença – essa medida indica a tensão no interior do olho e  considera-se a medida normal máxima para a população normal de até até 21 mmHg.  Não foi constatado uma relação direta não entre a hipertensão arterial e a pressão intraocular.

Quais os exames realizados para o diagnóstico da doença?

Alguns exames são importantes para detectar o glaucoma: tonometria (mede a pressão intraocular), fundoscopia (avalia o disco óptico), gonioscopia (avalia o ângulo  de drenagem do humor aquoso. Esses exames são determinantes para o diagnóstico de glaucoma no consultório médico. A partir daí, se os achados clínicos aumentarem a suspeita, parte-se para exames mais complexos.

Quais são os tratamentos possíveis? Qual a eficácia? Glaucoma tem cura?

Existem tratamentos clínicos (colírios) e cirúrgicos (laser, cirurgia fistulizante, cirurgias angulares, implantes de drenagem e procedimentos ciclo destrutivos). Em ambos os casos, o objetivo é controlar a pressão intraocular, e não curar a doença. O glaucoma não tem cura, tem controle.

Atualmente, existe alguma novidade em termos de tecnologia ou tratamento específico para essa doença?

Sim. A tecnologia tem evoluído na área do glaucoma. Existe o laser seletivo indicado para primeiro tratamento, ou para pacientes com glaucoma leve a moderado. E o i-stent, um implante de drenagem angular indicado para glaucomas leves a moderados, em pacientes já operados de catarata ou que têm indicação de cirurgia combinada (catarata e glaucoma).

Existe algo, algum cuidado, que possa ser feito preventivamente, antes da doença se manifestar?

Consulte seu oftalmológica regularmente e não use medicação sem orientação médica

INFORMAÇÃO, PREVENÇÃO E ATITUDE.


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8 de março de 2020 Sem categoria

Principal causa de perda irreversível da visão, o glaucoma afetará 80 milhões de pessoas em 2020 e 111,5 milhões em 2040, segundo projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, há escassez de informações confiáveis e atualizadas sobre a prevalência da doença, que neste ano é o tema central da campanha Abril Marrom, cujo objetivo é prevenir e combater os diversos tipos de cegueira.

“O que sabemos é que nos últimos anos tem havido mais casos por causa do envelhecimento da população e por se fazer mais diagnóstico hoje do que no passado”, diz Nara Gravina Ogata, especialista em glaucoma infantil e adulto pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

O que é o glaucoma?

É uma enfermidade crônica e degenerativa do nervo óptico (estrutura que envia as imagens do olho para o cérebro), normalmente associada ao aumento da pressão intraocular – essa medida indica a tensão no interior do olho e tem valor médio de 16 mmHg, mas até 21 mmHg ainda é considerada dentro do limite da normalidade.

Ele provoca um estreitamento do campo visual, fazendo com que a pessoa perca progressivamente a visão periférica. Nara explica que, na maioria dos casos, é assintomático.

“É uma doença bem silenciosa. Se instala e vai progredindo lentamente, durante meses ou anos, sem a pessoa perceber. O problema é que, quando recebe o diagnóstico, o nervo óptico costuma estar bem danificado e a visão periférica já muito comprometida”, afirma.

Quem é acometido pela doença?

A patologia tem origens variadas, sendo a genética uma das mais relevantes. Para se ter uma ideia, filhos de portadores de glaucoma têm de 6 a 10 vezes mais chance de desenvolvê-lo.

Idade avançada também eleva os riscos. No geral, a incidência aumenta a partir dos 40 anos, chegando a 7,5% aos 80, assim como o uso de colírios com corticoide de forma indiscriminada e sem acompanhamento médico, já que eles podem causar aumento da pressão intraocular.

A atenção ainda deve ser redobrada em diabéticos, cardiopatas, vítimas de trauma ou lesão (por exemplo, uma bolada ou cotovelada no olho) e pessoas de etnia africana ou asiática.

De acordo com o Ministério da Saúde, a prevalência da doença é três vezes maior e a chance de cegueira seis vezes maior em latinos e afrodescendentes em relação aos caucasianos.

Quais os tipos de glaucoma?

São vários os tipos de glaucoma. O mais comum é o primário de ângulo aberto, que representa cerca de 80% dos diagnósticos. Ele é assintomático e atinge pessoas a partir de 40 anos.

Neste caso, a pressão intraocular sobe lentamente devido ao mau funcionando do ângulo de drenagem do olho, responsável pela saída do líquido ocular (humor aquoso). Via de regra, a perda de visão começa nos extremos do campo visual e, se não for tratada corretamente, acaba por comprometer toda a visão.

O primário de ângulo fechado, com maior incidência em asiáticos e portadores de hipermetropia, ocorre quando o ângulo de saída do humor aquoso é bloqueado, geralmente pela íris, e o fluído não consegue ser drenado.

No geral, provoca aumento súbito da pressão intraocular, e o paciente pode ter dor forte nos olhos e na cabeça e ficar com a visão turva.

O glaucoma congênito se dá quando a criança nasce com uma má formação no sistema de drenagem do fluído do olho. Seus sintomas incluem olhos sem brilho e de coloração azulada, lacrimejamento, fotofobia e aumento do tamanho do globo ocular. Pode se manifestar logo após o nascimento ou na infância.

“Este é um tipo pouco frequente, mas é fundamental o diagnóstico precoce para tratamento imediato”, pontua Wilma Lelis Barboza, oftalmologista membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).

E ela acrescenta: “O teste do olhinho (reflexo vermelho), obrigatório em algumas cidades, é a oportunidade perfeita para o pediatra avaliar possíveis doenças oculares em recém-nascidos”.

Outro tipo de glaucoma é o de pressão normal. Diferentemente dos demais, neste ocorre dano ao nervo óptico mesmo sem a elevação da pressão intraocular. Suas causas são desconhecidas, mas sabe-se que tem uma associação com problemas vasculares.

Há ainda o secundário, desencadeado por fatores externos, como inflamação, trauma e uso de colírios de corticoide por tempo prolongado sem indicação e acompanhamento médico; o pigmentar, causado pela oclusão do ângulo de drenagem do olho por pigmento que se solta da íris, e o pseudoesfoliativo, provocado pela obstrução do sistema de drenagem do humor aquoso por depósitos fibrilares anormais.

Como é feito o diagnóstico?

Como a maioria dos casos é do tipo assintomático, o diagnóstico da doença se dá na consulta oftalmológica de rotina. Nesta ocasião, informa a médica Nara Gravina Ogata, é imprescindível que seja feita a medição da pressão intraocular e o exame de fundo de olho, para analisar o estado e o funcionamento do nervo óptico.

“Dependendo do caso, também podem ser necessários mais alguns testes, como campimetria computadorizada (avalia os defeitos do campo visual), paquimetria ultrassônica (mede a espessura da córnea), tomografia de coerência óptica (verifica as estruturas da retina e do nervo óptico) e retinografia (checa possíveis alterações no fundo do olho)”, complementa.

Vale salientar que pessoas a partir de 40 anos e quem tem histórico familiar de glaucoma precisa procurar o oftalmologista com mais frequência. Na avaliação, serão ponderados os fatores de risco e determinada a periodicidade das visitas.

Quais as opções de tratamento?

Uma vez diagnosticado o glaucoma, o tratamento se dá com base no seu tipo e estágio. Wilma Lelis Barboza, da SBG, enfatiza que ele não tem cura, mas, sim, controle.

“É uma doença crônica e progressiva, e o objetivo do tratamento, qualquer que seja ele, é estabilizá-la, mas ele não fará com que o paciente recupere a visão perdida. De toda forma, mesmo os casos avançados, quando há perda importante da visão, precisam ser tratados de forma regular, a fim de evitar a cegueira”, assegura.

As terapias são feitas com procedimentos clínicos, cirúrgicos ou a combinação dos dois. No início da doença, normalmente recomenda-se a aplicação diária de colírios específicos.

Entre os mais usuais estão: análogos da prostaglandina (travoprosta, bimatoprosta e latanoprosta), beta bloqueadores (maleato de timolol), inibidores da anidrase carbônica (cloridrato de dorzolamida) e agonistas de receptores adrenérgicos (tartarato de brimonidina). Eles podem ser usados separadamente ou combinados.

Em algumas situações também se faz necessário o uso de laser. As primeiras etapas do glaucoma de ângulo fechado, por exemplo, são realizadas dessa forma. A cirurgia, por sua vez, é indicada em cerca de 10% dos casos e no glaucoma congênito.

Segundo a presidente da SBG, a adesão ao tratamento, que é contínuo e sem duração pré-determinada, é importantíssima para o seu sucesso. “Por não perceberem a evolução da doença, muitos pacientes tendem a negligenciar a administração dos remédios”, completa.

Estudos recentes sobre glaucoma

Recentemente, especialistas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia promoveram dois estudos sobre os impactos do glaucoma na condução de veículos, a fim de verificar se o comprometimento visual provocado pela enfermidade aumenta o risco de acidentes.

No primeiro, foi avaliado o impacto do crowding (aglomeração) – fenômeno no qual os objetos se misturam quando apresentados muito próximos, dificultando a visualização – nos glaucomatosos.

“O crowding estabelece um limite fundamental para as capacidades da visão periférica e é essencial para explicar o desempenho em uma ampla gama de tarefas diárias”, explica Nara, uma das autoras do trabalho.

“E, devido aos efeitos do glaucoma justamente na visão periférica, hipotetizamos que a perda neural na doença levaria a implicações mais fortes do apinhamento visual, o que foi confirmado”, acrescenta.

Ao final da experiência, publicada na edição de fevereiro do jornal Investigative Ophthalmology & Visual Science (IOVS), da The Association for Research in Vision and Ophthalmology (Arvo), constatou-se que os que têm a enfermidade, mesmo em estágios iniciais, apresentam dificuldade maior em discriminar os itens.

O outro estudo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia avaliou a habilidade de dividir a atenção ao dirigir e falar ao celular, cena muito comum no dia a dia, apesar de proibida pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O intuito foi verificar a performance de portadores de glaucoma nesta situação.

A conclusão foi de que o tempo de reação a estímulos visuais periféricos é significativamente pior entre os pacientes com glaucoma. Durante o uso do celular, foi de 1,86 segundos, contra 1,14 segundos dos motoristas com olhos saudáveis.

De acordo com Nara, quem tem a doença não está proibido de guiar um automóvel, porém, precisa ser alertado de que os riscos de acidentes são maiores e, junto com o médico, decidir se é melhorar parar ou continuar com essa atividade.

Este trabalho do Conselho Brasileiro de Oftalmologia foi apresentado no último congresso da Sociedade Americana de Glaucoma, em Nova York, nos Estados Unidos, e publicado este mês na revista científica Jama, da American Medical Association (AMA).




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